quinta-feira, 18 de março de 2010

Bora Papar Cristo


Está patente em Viseu, patrocinado, note-se, pela Diocese respectiva, uma exposição de esculturas representando a XII Estação da Paixão de Cristo em chocolate. Ai que bom viver neste adimirável mundo novo tão docinho. Não vamos deixar Cristo morrer na cruz pela milésima novecentésima septuagésima sétima vez. Já chega de sofrimento. Agora, a Páscoa começa na Quaresma. Paixão já não é martírio consentido, com sentido, paixão é gostar muitumuitumuito de alguém tantutantutantutanto que só apetece comê-lo. Vamos fazer a estátua em chocolate, e no fim papamos o Filho de Deus, que é muito melhor que aquela hóstia desenxabida, apesar de consagrada. Os trotinetocatrinetos do gangue do Bezerro de Ouro consagraram o chocolate, que o ouro brilha mais, mas parte as dentolas. E se a coisa pegar, pode ser bom para o negócio, que os coelhinhos já não se reproduzem como dantes, comercialmente falando, ou foi mixomatose que lhes deu, ou não aguentaram a concorrência do consumismo «surprise me» globanalizado. (Este Papa, dizem os vendilhões de Fátima, não vende bem, por falar nisso. Não se queixem, filisteus. Preferiam o Arcebispo de Cantuária?)
Ah, como eu prefiro mil vezes o Richard Dawkins a fretar autocarros para propagandear mensagens ateístas Londres afora. Com esse, sei com o que conto. Com estes pasteleiros, nem carne nem peixe, só chocolate. Ninguém é obrigado a acreditar na 1) Paixão 2) Morte 3) Ressurreição de Cristo. Podem achar que é uma história da carochinha. Ninguém vos obriga a fazer jejuns para matar a fome que vem de dentro. Só faz quem quer. Mas respeito, pá! Vão lá fazer estátuas em chocolate do Michael Jackson, da Cinha Jardim, do Sócrates, da vossa mãezinha, dos Gormiti e da águia do Benfica. Mas deixem em paz esta minoria que acredita que a semente do trigo tem de morrer antes de dar muito fruto. E não estou a falar de amêndoas.

2 comentários:

  1. Olá Anónimo/a
    Com quem deseja falar?
    E outra coisa: não acha que a palavra «anónimo», para melhor exprimir a noção que lhe compete, não devia ter género? Sugiro «anonim». Não, faz lembrar «Danoninho».

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