segunda-feira, 22 de março de 2010

O educador


Isto de ser educador tem as suas porras. Não bastava terem de aturar o Ministério da Educação, seja lá o que isso for, têm os professores também a mais árdua tarefa de tentar passar incólumes ao perigo que representa um ano lectivo. E passarão se passarem os passarões. Se ousarem ousar, terão hordas de alunos a aguardarem uma distracção para passarem à acção, o mesmo é dizer, para se atirarem à stôra com o fito de a atirarem ao chão, procurando aí, descido que é o nível, entre bofetões, dentadas e pontapés na boca, exibir o escalpe da docente. Indecente. Umas escapam, outras não.

O que não sabíamos era que o Secretário de Estado da dita a não tinha. Pelo menos em quantidade bastante que lhe tivesse aguçado a curiosidade de decorar as fórmulas regimentais da Assembleia ou perguntar a quem tivesse por lá passado, ou chumbado, quando o chumbo não era ainda inconstitucional, como é que se fazia. Ou, melhor ainda, como os cábulas experimentados levados agora ao estrelato pelo sistema nacional de ensino, que tivesse escrito na palma da mão esquerda, claro, o que tinha de dizer para se dirigir à Câmara da deputação. Ai, pobre nação que tem a desdita de se ver representada por uns que tais e governada por outros iguais. Com o ocaso da classe operária operou-se a caducidade do grande educador.

E, não fora agora o Dr. Jaime Gama, podíamos recear que a república condescendesse com comportamentos patéticos, posto que politicamente correctos, do Secretário de Estado João Torcato da Mata. Ou do mato, diria eu de quem usa primeiro, e de cóccix a beijar o pau da cadeira, um discordante género como "senhoras deputadas e senhoras deputados" e depois um mais alinhavado "senhoras deputadas e senhores deputados", fórmula que não seria má se fosse boa. "Tem de se levantar e a fórmula é: Senhor Presidente e Senhores Deputados". "Não, não. Desculpe mas não lhe dou a palavra". "É Senhor Presidente e Senhores Deputados". O Mata, o do mato, lá conseguiu pronunciar um castrador "Senhor Presidente", mas já não teve forças para evitar a pimpineira de um gutérrico "senhoras e senhores deputados". Coitado. Não conhece o masculino genérico e, é bom de ver, desconhecerá outras realidades ainda menos desculpáveis.
Resta-me a sensação de que o Dr. Jaime Gama não deixará os deputados ou os presidentes da república comerem de boca aberta, falarem de boca cheia ou descalçarem-se no plenário. E explicará às primeiras-damas, seja lá o que isso for, que não se dão reais palmadas nas costas de magestáticas rainhas... E ainda um dia exigirá a esta canalha toda que não ande nas sessões ordinárias em mangas de camisa. Ordinários.

2 comentários:

  1. «Fórmula que não seria má, se fosse boa». Delícia. E o bocadinho do Dr. Jaime Gama correu-lhe francamente bem. Agora, amigo Facada, eu pergunto: de manhã, Carrilho, à noite Gama - não estaremos a elogiar socialistas a mais?

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  2. Acho que o Facada começa a revelar as suas verdadeiras preferências socialistas.

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