terça-feira, 20 de abril de 2010

A Esquerda Baixa


O grande perigo da religião é confundir o amador com a coisa amada. Quem acredita no Absoluto de Deus está sempre a um passo de acreditar em si próprio como Supremo Oráculo, intérprete iluminado daquele Absoluto. Assim se explicam as cruzadas, as jihads, as fogueiras da História. Mas a pior religião é a dos que negam em absoluto toda e qualquer transcendência, e se arvoram em supremos juízes da verdade. Pior ainda se incultos, mal-intencionados ou simplesmente queixinhas. Já demos abundantemente para o peditório das lamúrias progressistas sobre os males da Igreja. Muitas baseadas em sofismas, outras em patetices, outras ainda num ódio incompreensível à Igreja, e algumas, mais maquiavélicas, no desejo secreto de minar o Cristianismo como trave-mestra da civilização, para construir dos escombros a sociedade perfeita.
Quando se acredita em absolutos de uma forma distorcida, vale tudo. O terreno não é o da argumentação racional, mas o da jihad. Não há adversário, só inimigo. Não se pretende vencer, só esmagar.
É assim que um cartoonista como António alterna momentos de génio com a falta de respeito mais soez por um ser humano, por acaso role-model de mil milhões de seres humanos, e o desenha de preservativo no nariz. Porquê? Porque está firmemente convicto, acredita - crê -, que o Papa não pode defender o preservativo. Porque a sua religião intolerante o impede de aceitar o ponto de vista alheio. E este cartoon tem renascido permanentemente como símbolo de luta por uma suposta liberdade, supostamente ameaçada pelo suposto obscurantismo da Igreja. Contribuo eu próprio para o trazer de novo à memória, pelo que serei criticado por muitos dos poucos que me lêem, com o objectivo muito simples de o expor à luz, para que seja lido desapaixonadamente. É um grito pela liberdade, ou é um achincalhamento vil? Esta imagem também vale por mil palavras. Cada um julgue por si.

Agora anuncia-se mais uma cereja no bolo. Um pateta da Associação SOS Racismo procura voluntários para distribuir preservativos, não no Bairro Alto, não na Voz do Operário, mas numa celebração que para alguns, alguns mil milhões, é sagrada, e como tal deveria ser respeitada. Distribuir preservativos nas missas do Papa em Portugal, como se anunciou, é uma ideia miserável, porque o direito de expressão não se deve confundir com a ofensa gratuita. Sobretudo quando se diz hipocritamente que não se trata de uma provocação. Discorde-se da visão do Papa. Alguns cristãos o fazem, com a discrição devida. Essa não é sequer matéria coberta pela infalibilidade papal. Mas confiem o suficiente na vossa razão para respeitar a dos outros. Distribuam preservativos no Parque Eduardo VII. As televisões, as rádios e os jornais do regime farão uma cobertura da meia-dúzia de activistas que conseguirem juntar, porque a má-educação dá sempre boas audiências. Mas respeitem ao menos uma missa. 

9 comentários:

  1. Não percebi essa dos seis mil milhões... então, os seguidores do Papa correspondem à totalidade da população humana?
    Que eu saiba, seguidores do Papa, havia 800 milhões, se formos a crer que todos os Católicos se revêm no Papa.

    Em relação a absolutismos, embora eu dê razão ao ranheta, de que os há - e muitos - entre os anticlericais, penso que ainda os há em número muito razoável entre os Católicos. Infelizmente, neste post, o Ranheta deu mostras desse seu absolutismo e intolerância, pois está a tentar ver a posição dos outros pelos seus próprios olhos.

    Se, para o Ranheta, o Papa tem algo de transcendente, de representante Divino, na Terra - o que se segue da sua formação Católica - tem de compreender também que, para um não-Católico, o Papa é apenas um líder religioso (aceitando que o é de uma das religiões de maior expressão no mundo) e o Chefe de Estado do país mais pequeno do mundo. Logo, para um não católico, o Papa está tão sujeito à crítica e à caricatura como qualquer outro líder político ou espiritual.

    Ora, aqui existe uma posição da Igreja Católica, e do Papa em particular, que afecta a saúde de populações inteiras. Ao condenar o uso do preservativo, o Papa prejudica os esforços de contenção de uma epidemia que, na altura do Cartoon em questão, aterrorizava a humanidade.

    É claro que a questão é muito mais complexa. O Papa defendia a abstenção sexual fora do matrimónio, o que também conteria a doença e o preservativo, entre casais monogâmicos, serviria unicamente como medida anticoncepcional, o que era o verdadeiro motivo da oposição do Papa. O Papa nunca defendeu que os preservativos não fossem usados por quem mantivesse diversos parceiros sexuais (defendia antes que não os tivesse). Tudo isso é verdade. Mas, na política, em geral, e na caricatura política, em particular, usa-se traços simplistas e hipérboles. É um dado adquirido que uma caricatura exagera os traços gráficos e os traços da mensagem. Quem a vê, sabe disso. E o facto é que o Papa, ao opor-se à distribuição de preservativos nas escolas ou em locais frequentados por jovens, está a tomar uma posição que realisticamente e factualmente prejudica a sociedade.

    ResponderEliminar
  2. Caro José Luís:

    Tem toda a razão quanto ao número de católicos. Distracção. (Se lhe quiser chamar lapso freudiano, esteja à vontade - fraudiano é que não.). Já emendei, não para 800 milhões, mas para 1000 milhões (Wikipedia).
    Quanto ao seu raciocínio, one little flaw: o Papa não obriga ninguém, e exerce um magistério meramente moral. E o meu post é sobre respeito dos outros, não sobre preservativos. Sobre preservativos, ainda assim, direi que tenho dúvidas sobre a posição oficial da Igreja. Talvez o preservativo não deva ser afastado como solução de curto prazo para poupar vidas. Do que não tenho dúvidas é de que não deve ser usado como paliativo para uma vida sexual desregrada susceptível de propagar SIDA e outras doenças.

    ResponderEliminar
  3. Para ser sincera já nem percebo porquê que se discorda tanto da visita papal. É que francamente, isto é muito cansativo. Nós católicos, coitados, uns pindéricos, sempre a justificar, acabrunhados, com vergonha, olham-nos como uns tipos muita esquisitos…
    Mas nós nem somos nada disso. E que raio, não dá para um pouco de respeito? Só por um dia ou dois? É que os Papas vêm cá tão pouco, deixem-nos lá estar com ele. Distribuir preservativos durante a missa? Isso seria impensável numa celebração judaica ou islâmica por exemplo.
    Não haverá maneiras muito mais interessantes para conseguirem mostrar que o trabalho que desempenham é válido e necessário? Preservativos na missa? Tenham dó.
    Na Mesquita de Lisboa dava direito a uma intifadazinha. E com razão! Não há pachorra!

    ResponderEliminar
  4. Essas pessoas que querem distribuir preservativos numa celebração Católica entrariam de galochas numa mesquita?

    ResponderEliminar
  5. Ranheta, quando diz em resposta a um comentador que :
    "Quanto ao seu raciocínio, one little flaw: o Papa não obriga ninguém, e exerce um magistério meramente moral. E o meu post é sobre respeito dos outros, não sobre preservativos."

    Não posso deixar de lhe dizer que: para mim É UMA GRANDE FALTA DE RESPEITO a Igreja (e não sendo o Papa ele proprio, deduzo que seja com anuimento do proprio) andar a pregar por alguns paises de Africa, numa sociedade onde o nivel socio-cultural da maioria das populações é muito "desfavorecido" e como terreno fertil para crendices e "dogmas", que o PRESERVATIVO não "preserva" a pessoas de doenças sexualmente transmissiveis.

    Sabe quantas mortes poderiam ter sido evitadas? Quantas crianças contaminadas com HIV poderiam estar hoje em dia saudaveis ?

    Sabe que o "magistério moral" que a igreja exerce, é contrario ao uso de preservativo. Já terá certamente visto reportagens internacionais onde representantes da Igreja negam inclusivamente a validade cientificamente provada do preservativo no evitar de transmissão de DSTs.

    Obviamente que os habitos e costumes Católicos, se forem seguidos, serão certamente tão ou mais eficazes que o preservativo...mas o problema é que vivemos na Terra e não no Céu...e é com os Humanos que lidamos não com divindades...enquanto se tentam mudar habitos e comportamentos com magistérios morais, muitos vão desta pra melhor (...alguns se calhar até tinham usado o preservativo no nariz como o cartoon).

    Para mim a falta de respeito é mesmo essa.

    Se me perguntar, tb não concordo que se vá provocar o Papa e os seus seguidores com entrega de preservativos...mas o que é isso quando morrem milhares de seres humanos e não parece que a Igreja esteja preocupada em promover algo que comprovadamente iria poupar a vida a bastantes!

    ...e uma que fosse já seria importante!!!

    ResponderEliminar
  6. Caro Pedro:

    O Papa nunca disse que o preservativo não «preserva» contra DSTs, ao contrário do que você afirma. O que o Papa diz, e é bem diferente, é que não é a via mais eficaz. E por «mais eficaz» entende-se uma via que vá à raiz das coisas, aos comportamentos e relações humnanas. Dito isto, repito que, num mundo real, não estou certo de que o preservativo não deva fazer parte da solução. Desde que não seja o único.

    ResponderEliminar
  7. O autor do texto, não é contra ninguém, apenas parece defender a sua fé, e parece pedir, um bocado de pachorra para tanta ignorância.
    Ponto único, Deus e a Igreja não obrigam ninguém a rigorosamente NADA!
    Acho que quem escreve contra a Igreja, não sabe o que é o Amor.
    Apenas sabem ser deuses de si próprios, e acham-se donos da razão, e quando se tenta aprofundar um bocadinho mais, põe o preservativo no nariz de um Santo!
    O jovem do bairro alto, podia ir a meca com uma roulote de bifanas, na altura do ramadão, ou fazia uns cartoons do profeta, e distribuia nas saidas das mesquitas. Isso é que era!
    Pachorra, é preciso muita para aturar certas pessoas, ou não, no fundo temos de amar o próximo.....mas ás vezes é muito dificil!

    ResponderEliminar
  8. Ranheta,
    de facto nunca ouvi o Pápa a falar explicitamente contra o preservativo. Tambem concordo que a raiz do problema serão os costumes. Estamos de acordo. Mas tambem sabemos que é "costume" em Africa existir muita contaminação, por exemplo de mulheres inocentes por maridos com habitos menos catolicos. Tambem sabemos que em certas regiões chega a existir a crendice de que "desflorar uma jovem" será cura para o HIV.
    Ora sendo esta uma realidade tão efectiva, como o facto de o Pápa apelar para a "raiz do problema" ... e vendo as coisas de forma pragmatica, parece-me obvio que a maior utilização de preservativo, por si só teria resultados imediatos? Poupando muitas vidas?

    Façamos o exercicio ao contrario: De facto o problema são os "costumes" intituidos, então vamos lutar para muda-los. Otimo, parece-me bem. Mas mudar costumes "enraizados" leva muito tempo, e entretanto morrem muitas pessoas. Porque não mudar costumes "enraizados" e salvar o maior numero possivel de vidas em simultaneo? O facto de se usar um preservativo, não impede em nada que se mudem "costumes enraizados". Prevenção é algo que qualquer um de nós entende, e que certamente reconhece o valor. Então porque não tentamos mudar costumes, e salvamos vidas em simultaneo? ...porque apenas e só tentar mudar costumes, esquecendo a parte de salvar vidas?

    É neste ponto que discordo da postura da Igreja. E reconhecendo que a Igreja não obriga ninguem, tambem o Ranheta deverá reconhecer exerce o seu "magistério moral" condenando o uso de preservativo.

    E isto, de forma pragmatica é algo que salva vidas! Qual o problema de salvar vidas?

    Os "maus costumes" existem desde sempre, muito antes de o preservativo existir, não será a sua utilização que irá impedir a mudança dos mesmos.

    ResponderEliminar
  9. Caro Pedro:

    Já estava implícito, mas vou explicitar: concordo a 110% com o que diz.

    ResponderEliminar