segunda-feira, 26 de abril de 2010

Justiça Relativa


Para mim, que não sou de modas, Santarém é a terra de góticos e de Vacas. E mesmo góticos já há lá poucos. Emigraram quase todos para Massamá ou para outro subúrbio perto de si e os que por lá ficaram jazem silenciosos à porta de uma qualquer igreja escalabitana até que a fúria construtiva ou os ciganos espanhóis os derribem. Mas isso sou eu. Quero dizer, sou eu a pensar, já que não sou gótico, nem construtor, nem cigano e muito menos espanhol. Aliás, em minha casa até se diz "antes construtor gótico cigano do que espanhol".

Mas o nosso Primeiro, que em modas não se licenciou num Domingo e para quem a última já é obsoleta, supreendeu-nos com o anúncio da criação justiceira. Em vésperas da visita do Santo Padre, o Primeiro (que, segundo as Sagradas Escrituras será o último!) acha-se criador. E cria. Ele não crê, mas cria. Cria défices à labúrdia e agora também não um, nem dois mas três tribunais. Tudo em Santarém. Um quase superior - o da Relação - e outros especializados: um para a propriedade industrial e outro para a concorrência, regulação e supervisão. E todos ficam contentes e furibundos ao mesmo tempo. O Jerónimo acha bem o industrial mas lamenta a propriedade. O Louçã acha muito bem a regulação mas rejeita a concorrência. O Passos Coelho sorri afavelmente e acena, enquante exige uma revisão constitucional. Já o Portas acha bem a indústria mas lastima o esquecimento da lavoura, propondo o tribunal da propriedade agrícola para Vale de Prazeres.

Quem não gostou nada desta deriva foi a ala esquerda do pêésse, que começou a mandar subliminares mensagens evolucionistas. A começar por uma cadeia de mms com a foto do Rui Pedro Soares. E outra cadeia com o Vara. E se não podiam abortar os ditos tribunais, ao menos que escolhessem sede adequada. Nada melhor do que um quartel (antes que voltem a ser igrejas). E no caso, a Escola Prática de Cavalaria. A Dra Isabel Alçada já se congratulou com a escolha da Escola. Não é uma escola qualquer. É uma escola moderna, prática. Voltada para o futuro e para um simpático jardim que há-de fazer as delícias das testemunhas, quando se virem na necessidade de espera seis meses para serem ouvidas. Haverá melhor sítio para instalar um tribunal do que uma escola de cavalaria? Não, não há. Funcionários em boxes, Advogados bem ferrados e juízes, com cabeção, passados à guia. Um volteio disciplinador onde até os utentes, sobretudo os queixosos, trarão peitoral e rabicheira.

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