terça-feira, 27 de abril de 2010

Grandes questões do nosso tempo - 1

Nunca serei capaz de compreender o conceito de styling de sobrancelhas que conheci há um par de dias. Fiquei com a sensação de que alguma coisa de muito grave se passa numa sociedade em que as pessoas pagam para que as sobrancelhas lhes sejam “arranjadas” de modo a que, aconteça o que acontecer, tenham sempre a mesma expressão (para além do incómodo que sinto sempre ante o uso abundante e despropositado de barbarismos em gerúndio). Poderá alegar-se, em defesa desta opção, que o interesse em ser expressivo é sobrevalorizado hoje em dia e que há casos em que as sobrancelhas são de tal modo luxuriantes que a única coisa a fazer é desbastá-las sem dó nem piedade sob pena de o estilo Cunhal abundar mais do que o desejável. Admito que este último caso justifique uma acção humanitária rápida e cerce mas já me custa a entender que donzelas com níveis aceitáveis e equilibrados de implantação de penugem na arcada supraciliar invadam os estabelecimentos da especialidade para serem retocadas ficando como se tivessem paralisia facial.
Enquanto outras civilizações cultivam o stiff upper lip as mulheres portuguesas mostram a sua pelando-se, literalmente, por umas stiff eyebrows. O problema é que, enquanto a primeira evoca a tenacidade e o espírito de sacrifício, a segunda transporta-nos directamente para o uso popular da palavra stiff. Em bom rigor… mortis.
Deixem-se disso. Vamos dar as mãos e ser todos pelo direito à sobrevivência pacífica das sobrancelhas em habitat natural. Já salvou uma sobrancelha hoje? De que é que está à espera?

2 comentários:

  1. Caro Cocó:

    Obrigado pela possibilidade de participar no seu programa, que sigo com muito interesse, visto que gosto muito do seu trabalho.
    Será posssível explicitar o sentido da expressão «as mulheres portuguesas mostram a sua pelando-se»?
    Desde já muito obrigado.

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  2. Filizseu,

    Eu e o Senhor Manuel Acácio agradecemos penhoradamente a simpatia do seu comentário.

    Explicitando, que é para isso que nos pagam:

    A sua. Civilização.

    Não tem nada que obrigadar. Mande sempre.
    Notas de 500 euros, de preferência.

    Cocó

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