O Sindicato dos Pedreiros vive frenético a sua última oportunidade de sujar a roupa branca do Papa. O último era popular, desempoeirado, acabou com o comunismo, reunia mais gente que aqueles encontros espontâneos por sms e, sobretudo, não tinha sotaque de Viseu. Respiraram de alívio quando ele morreu, e mais contentes ficaram quando o Conclave elegeu um novo S. Pedro que ainda tinha participado, quando cardeal, na execução de Galileu pela fogueira. Um personagem sinistro, anti-semítico, anti-islâmico, anti-estamínico e que, segundo parece, bate na avó. Agora, chegou a cereja no cimo do bolo: o homem é pedófilo, sim, pedófilo, porque encobriu pedófilos, e tão pedófilo é o que vai à vinha como que fica ao portal. Nos States, onde se processa o fabricante do fecho-éclair se se entalou o abono de família, há um advogado que quer processar pessoalmente o Papa. Já no Reino Unido, Dawkins, o ateu, ateia a fogueira, exigindo que Bento seja preso assim que pise o solo da ilha.
Estão desesperados. São a geração que assistiu ao não cumprimento das promessas do Papa Marx para a economia. Mas têm anseios legítimos de não morrer sem assistir ao levantamento popular contra o obscurantismo dos padres. Aspiram a contemplar um amanhã sem amanhãs que não os terrenos. Querem matar o pai. Querem matar o Papa. Querem completar o que falta ao sofrimento de Cristo.
Tipos esquisitos estes. São como a formiga à boleia do elefante que comenta, eh, pá, o pó que a gente faz. Não percebem que alguém já esvaziou as igrejas, que não eles. A grande máquina mercantilista americana, com a sua ânsia de felicidade basta-juntar-água, é muito mais eficaz. Os filmes, os jogos, os reality shows, a Tyra, a Oprah, O Dr. Phil, sem quererem prender o Papa nem lhe chamarem nomes feios, estimulam o carneirismo, a alienação, o ensimesmamento. E a obesidade, e a violência nas ruas, e a pornografia, e a pedofilia. A pedofilia.
O Papa, como no fundo o Sindicato dos Pedreiros muito bem sabe, está do outro lado. É o chefe duma Igreja que se tem fartado de levar porrada, como é vocação de alguém que se dispõe a seguir Cristo, que levou porrada, ah, e morreu, por nós. Como as transições da História levam séculos a concretizar-se, a Igreja ainda tem comportamentos atávicos, do tempo em que o seu poder secular a tentava a tentar encobrir os seus pecados, sim, os seus pecados. Mas agora, iniciou lenta, mas seguramente, o caminho no sentido de pôr cobro aos abusos. Reconhece, pede perdão, quem sabe se até demais, aggiorna-se. E segue em frente.
Entretanto, figuras insuspeitas de simpatia pela Igreja vão manifestando a sua estranheza pelas diatribes dos pedreiros. Cá no torrão, por exemplo, Inês Pedrosa pergunta se só os padres são pedófilos, e porque não se sabe nunca nada dos abusos perpetrados com muito maior intensidade por figuras políticas, como ilustra demasiado bem o caso Casa Pia. E o autodesignado ateu Ferreira Fernandes vai na mesma linha. E Daniel Oliveira, apontando o dedo ao encobrimento de padres pedófilos - mas isso, também eu - também denuncia a demagogia, o sofisma, a campanha. Porque não se ouve ninguém falar dos escritos em favor de relacionamentos íntimos com crianças de tenra idade produzidos nos anos 60, no auge do amor livre, que não era amor nem livre, por um educador de infância alemão chamado Daniel Cohn-Bendit, hoje ponta-de-lança da agenda radical europeia?
Terminemos com um lugar comum tirado da Bíblia, que é em si mesma um lugar comum para gente de boa vontade, mesmo que não goste de padres: «Felizes sereis, quando vos insultarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o género de calúnias contra vós, por minha causa.» Retire-se as ovelhas negras do rebanho. E bordoada nos lobos.
Extraordinário. É isto que eu preciso de saber dizer no meu local de trabalho.
ResponderEliminarDe certeza que sabe, caro Enófilo. Ou, quando muito, ainda não sabe que sabe.
ResponderEliminarBem vindo... Ficava melhor "retirem-se as ovelhas negras do rebanho. Mas gostei e subscrevo.
ResponderEliminarLindooooo! :-)
ResponderEliminarEste post não é digno de um ranheta, mas de um escarreta.
ResponderEliminarMas o senhor papa não está já morto?
ResponderEliminarNão se foi (auto)matando a estupidificação da mente ao longo de séculos e séculos?
E o suicídio das certezas e das infalibilidades não se afogou no seu próprio elixir, aliás…veneno?
O estrebuchar de ovelhas branquinhas e puras como os véus de aparições imaculadas não voam em pedaços de vento como flocos de nada?
É bem claro que o religiosamente correcto não deixará que milhares, centenas de milhar, milhões e centenas milhões adorem, (adorarão, suprema verdade!) a honorífica segurança do perdão eterno e saboreiem, (saborearão, verdade suprema!) a beatífica entrada nos reinos dos inventados céus.
Ámen.
Ah, Eagle Forever, Você diz isso só para ser simpático...
ResponderEliminarAnónimo, I'm not quite sure I follow you...
ResponderEliminarAnda aqui um gajo à espera da beatificação deste Jesus e tu pá, vais dissertar sobre o Ratz. Valha-te Santo António!
ResponderEliminarCaro Ranheta,
ResponderEliminarFique sabendo V. Exa. que eu também já me insurgi contra essa maldita petição que foi criada e assinada por alguns dos mais importantes filósofos franceses contemporaneos. O pior é que essa gente é hoje perpetuada no ensino académico e as suas obras leccionadas como pilares da cultura contemporânea. Deus nos ajude. A petição a favor da despenalização das relações entre adultos e menores (que consistia em abolir a idade minima em que era legar ter sexo com menores - ou seja, deixava de haver idade minima) foi assinada pelos seguintes: Michel Foucault (o principal impulsionador da coisa), Jean-Paul Sartre, Roland Barthes, Simone de Beauvoir, Jacques Derrida e Gilles Deleuze. Os supostos deuses da filosofia francesa contemporânea. Não sou a favor da censura, mas foda-se, não era de parar de ensinar o lixo amoral destes senhores nas nossas faculdades?!
O problema mais fundo, para mim, não é esse. Essa carneirada que o Escarreta diz que hoje segue a Oprah e o mercantilismo dos States, nunca fez grande impressão ao Descendente de São Pedro enquanto era a ele que a carneirada seguia (ele até lhe chamava, justamente, o «seu rebanho»). E não tenhamos dúvidas que, nessa altura, seguia o Papa pelos mesmos motivos que hoje segue o São Capitalismo - porque ia no rebanho - e porque tinha uns Domine Cane (a.k.a. Santo Ofício) a morder-lhes as canelas, se se apartavam um nadinha do rebanho. Muito poucos, diria eu, seguiam pela verdadeira fé, que desconheciam, mais eram os que encarneiravam.
ResponderEliminarOra, acho que a Igreja não se pode queixar da alienação do seu povo, quando usou essa alienação em seu proveito no passado.
Agora, quer isso dizer que a Igreja é só alienação? Longe disso. Eu diria que a Igreja mantém, sensivelmente, o mesmo número de verdadeiros fieis desde há dois mil anos. Esses, os verdadeiros fieis, eram-no quando Cristo morreu na Cruz, eram-no quando ressuscitou, eram-no quando foram mortos nas arenas romanas, eram-no quando Constantino publicou o Édito de Nantes, eram-no quando a Igreja atingiu o zénite do seu esplendor e opulência, eram-no quando o iluminismo os fez bater em retirada, eram-no quando a igreja era perseguida e eram-no quando tinha todos os privilégios. A minha teoria é que o seu número pouco ou nada varia ao longo dos séculos. O que varia são os outros, os carneiros, em redor.
Por isso, se a Igreja está a perder poder e prestígio porque os carneiros estão a seguir outro pastor e só restam os verdadeiros fieis? Deixá-lo. Já por lá passou antes e não era pior por isso. Não me assusta se, em 2050, só houver 100 mil Católicos no mundo, contanto que sejam bons Cristãos.
O que me preocupa é pensar que isso possa preocupar a Bento XVI e que este pedido de desculpas seja feito não por sinceridade, mas antes numa tentativa vã de estancar a hemorragia de seguidores e financeira.
Por isso, não estou preocupado com o futuro da Igreja. Vazias ou cheias as igrejas (com letra pequena), o núcleo duro da Igreja (com letra grande) vai lá estar sempre, seja qual for o Papa, seja qual for a mensagem do Osservatore Romano, seja qual for o último escândalo com o Banco do Vaticano e com as Lojas Maçónicas.
Caro 21:52:
ResponderEliminarAptece, mas não pode. Essa malta quando ouve falar em censura fica histérica e acaba-se o sossego. Prefiro a técnica do João XXIII: abrir as janelas e deixar sair o ar pútrido.
Caro Malaquias:
ResponderEliminarVocê tem nome de profeta e, apesar de duas ou três coisas com que não concordo, parece-me que mete o dedo na ferida com grande perspicácia. Nomeadamente: após estes milénios de Revelação, após a Encarnação, após a Paixão, após a Ressurreição, o número dos que se querem salvar vai aumentando, ou o grosso da manada desiste de se salvar por um prato de lentilhas?
Já agora, Malaquias, vem a propósito lembrar que já o velho Abraão já se confrontou com este problema [Gen 18, 20-33]:
ResponderEliminar20 O SENHOR acrescentou: «O clamor de Sodoma e Gomorra é imenso e o seu pecado agrava-se extremamente. 21Vou descer a fim de ver se, na realidade, a conduta deles corresponde ao brado que chegou até mim. E se não for assim, sabê-lo-ei.» 22Os homens partiram dali, e encaminharam-se para Sodoma. Abraão, porém, continuava ainda na presença do SENHOR. 23*Abraão aproximou-se e disse: «E será que vais exterminar, ao mesmo tempo, o justo com o culpado? 24Talvez haja cinquenta justos na cidade; matá-los-ás a todos? Não perdoarás à cidade, por causa dos cinquenta justos que nela podem existir? 25Longe de ti proceder assim e matar o justo com o culpado, tratando-os da mesma maneira! Longe de ti! O juiz de toda a Terra não fará justiça?»
26O SENHOR disse: «Se encontrar em Sodoma cinquenta justos perdoarei a toda a cidade, por causa deles.» 27Abraão prosseguiu: «Pois que me atrevi a falar ao meu Senhor, eu que sou apenas cinza e pó, continuarei. 28Se, por acaso, para cinquenta justos faltarem cinco, destruirás toda
a cidade, por causa desses cinco homens?» O SENHOR respondeu: «Não a destruirei, se lá encontrar quarenta e cinco justos.» 29Abraão insistiu ainda e disse: «Talvez não se encontrem nela mais de quarenta.» O SENHOR disse: «Não destruirei a cidade, em atenção a esses quarenta.» 30Abraão voltou a dizer: «Que o Senhor não se irrite, por eu continuar a insistir. Talvez lá se encontrem trinta justos.» O SENHOR respondeu: «Se lá encontrar trinta justos, não o farei.» 31Abraão prosseguiu: «Perdoa, meu Senhor, a ousadia que tenho de te falar. Talvez não se encontrem lá mais de vinte justos.» O SENHOR disse: «Em atenção a esses vinte justos, não a destruirei.» 32Abraão insistiu novamente: «Que o meu Senhor não se irrite; não falarei, porém, mais do que esta vez. Talvez lá não se encontrem senão dez.» E Deus respondeu: «Em atenção a esses dez justos, não a destruirei.»
33Terminada esta conversa com Abraão, o SENHOR afastou-se, e Abraão voltou para a sua morada.
Ora porra... e não conta o fim da anedota? E então? E se fosse só um?
ResponderEliminarE como é que é a história da estátua de sal? Esse era justo ou era dos que foi caindo?
E os que se safaram? Como é que se livraram da fama de rabetas, quando diziam que vinham de Sodoma?
Contai, meu caro ranheta, deixai vir essas secreções cá para fora, pois todos aguardamos com impaciência as cenas dos próximos capítulos.
Um excelente post, muito parabéns pela verdade é estranho dizer isto mas de facto nos dias de hoje é raro ver a verdade assim tão clara,
ResponderEliminarA culpa é nossa, caro 19:50...
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